quarta-feira, 28 de maio de 2014

Reciprocidade


"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós,a gente, as pessoas, têm, temos - emoções.”
(Caio Fernando Abreu)

  Quem me conhece bem sabe: eu ainda não alcancei um nível de elevação espiritual suficiente para poder viver esse lance de “dar sem receber”. O discurso é belo, traz até um tom de heroísmo e santidade, e eu não duvido que existam pessoas que vivam-no. Mas, eu, muito particularmente, acho que reciprocidade é fundamental nas relações. Somos humanos, temos emoções, sentimentos, expectativas. Se nosso corpo depende de combustível pra manter as funções vitais (oxigênio, água, alimentação..), nossa alma também precisa ser suprida de alguma forma. Esperamos retornos. Esse sentimento de se sentir de alguma forma inserido na vida daqueles que a quem consideramos imprescindíveis na nossa vida nos move, nos impulsiona a continuar. Entretanto, nem sempre a gente ocupa o mesmo nível de importância na vida de quem a gente considera importante. Quando existe significado, a nossa vida e todos os acontecimentos dela só tomam sentido quando os partilhamos com aqueles que são de fato significantes. Quando a pessoa nos é especial, ela torna-se essencial, sempre, e em grande parte dos movimentos do nosso viver existe a presença do outro. Contudo, como citou Shakespeare, “não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam..”. Não mesmo. Mas como eu não tenho vergonha na cara, teimo em acreditar que todas as pessoas do mundo pensam, sentem e agem como eu. Doce ilusão. O mundo é cruel. A maioria das pessoas também. E não resta saída. Ou a gente mantém a inverdade de uma relação unilateral ou se acostuma com essa crueldade. E por mais que doa, prefiro a última opção.

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