quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Fruto Verde


No auge dos meus poucos anos, me confundi de verdade: você não era o ser de outro mundo que eu julguei ser até dias atrás; era fruto imaturo mesmo, que eu, displicentemente, resolvi degustar. De fato, nunca havia ouvido sobre disco voador nenhum estacionado na porta da sua casa, nem anteninhas ou competências sobre-humanas - eu te inventei pra me recriar, acho que foi por aí. Já o leve azedinho que compunha teu gosto - delicioso gosto (nem sei se vale mais a pena frisar isso, mas, vamos lá) - passou facilmente despercebido diante dos dulcíssimos momentos vividos. Passados tais instantes, o sabor azedo, dia após dia, vem se pronunciando, e só então percebo o quão cedo te colhi. Você, saudosa do seu galho, escolheu retornar à ele. Há metros do chão, ainda que envolvida por uma insegurança e por uma confusão sem fim, quis estar (novamente) pendurada e vulnerável. Hoje eu sei, vivemos em estações diferentes e, eu até poderia quebrar-seu-galho e forçar o espatifar de ambos no chão mais próximo que houvesse, mas, sabe, minha fome é pra já, covardia é algo que não costumo mais tolerar, de um futuro nosso em comum não há mais o que se esperar.