
Todo cuidado agora é pouco. Neuroses e traumas à parte, cautela, mais do que nunca, tornou-se meu lema. É que a essa altura, penso em minimizar ao máximo a possibilidade de errar, já que anulá-la é impossível. Ao mesmo tempo, numa contradição estúpida, sinto o impulso vital de me jogar de um penhasco, ciente que da queda posso herdar tanto a morte quanto a vida propriamente dita; não essa que me atestam pelo simples fato de eu respirar, mas uma vida de verdade. Eu corro contra um tempo que insiste em não me esperar, e não há barganha ou acordo que o convença a ser meu aliado. Eu corro atrás de um tempo que eu julgo ter perdido,e desejo dias de 30 horas, noites estreladas, lua cheia e brisa na cara, sentimentos sinceros e música tocando nos auto-falantes dos postes sem cessar, só pra tentar compensar os dias idos e infrutíferos. Corro porque faz bem pro coração; esse sedentarismo de contentação barata não ficou pra mim. Corro até cansar, e quando cansar levanto e corro de novo, seja pra fugir da dor ou pra ir de encontro ao que me faz bem. Eu corro. Porque se eu não correr, ninguém vai correr por mim.